A jovem metodista canadense Aimee Semple McPherson converteu-se em 1907 numa pregação de um missionário pentecostal. Diz que um ano mais tarde teve a experiência da cura divina na Igreja de Durham. A pregação da cura divina veio a ser a característica desta Igreja. Aimee foi como missionária para a China. Posteriormente retomou a Los Angeles e lá fundou a Igreja do Evangelho Quadrangular.
O pregador Harold Williams, com a ajuda do pregador de cura divina Raymond Bootright, realizou uma intensa campanha em tendas de lona de circo pelo Brasil afora, sob o nome de “ Cruzada Nacional de Evangelização” , pregando a cura divina. E algumas congregações da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil no estado de São Paulo abriram suas portas para a evangelização centrada na cura divina. Em 1953 este movimento evangelístico desembocou na organização e institucionalização da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil. Em especial o trabalho evangelístico da Cruzada Nacional conseguiu um grande crescimento desta Igreja nas primeiras décadas, inclusive a partir da evangelização de membros de denominações tradicionais. Lembro-me muito bem de quando, há 25 anos, chegaram os missionários da Quadrangular na minha cidade de Santo Ângelo.
Falavam contra a existência de templos de igrejas cristãs, pois Deus não morava em templos, e sim no coração das pessoas. Falaram também contra a formação de pastores e missionários, bem como contra a institucionalização das igrejas. Na sua forma “ liberal” de vestir-se os membros desta Igreja se assemelham às igrejas tradicionais, em contraste com as normas rígidas de vestir-se na maioria das igrejas pentecostais. Mas parece que o crescimento perdeu esse seu ímpeto pessoal, e ela é atualmente uma Igreja institucionalizada como as demais, dependendo ainda hoje de recursos financeiros e de lideranças dos Estados Unidos. Talvez este seja um dos motivos por que esta Igreja não abrange todas as camadas populares, como o fazem as Assembléias de Deus, a Congregação Cristã e outras.
Na sede desta Igreja na cidade de São Paulo lemos em quatro placas luminosas e coloridas: “ Jesus salva” (em vermelho), “ Jesus batiza no Espírito Santo” (amarelo), “ Jesus cura” (azul), “ Jesus volta” (marrom). São os quatro pilares da doutrina da Igreja do Evangelho Quadrangular. A fundadora afirma que teve a visão desse ministério quádruplo de Cristo durante uma pregação num tabernáculo em 1922, em Oakland, EUA.
Administrativamente esta Igreja está subdividida em regiões e distritos, a exemplo da Igreja Metodista e da IECLB. Importante é a constatação de Antônio G. Mendonça de que “ a Cruzada Nacional de Evangelização da Igreja do Evangelho Quadrangular foi o rastilho de pólvora da explosão pentecostal no Brasil”. Alguns sociólogos e historiadores afirmam que o início dessa explosão pentecostal no Brasil se deu na década de 1940, associando-a ao início do processo de industrialização, com a migração e o crescimento dos centros urbanos, onde os pentecostais iriam evangelizar. Outros vêem o início da explosão pentecostal a partir da década de 50. Seja como for, claro está que a pregação insistente e ampla da cura divina foi o rastilho para essa explosão, pois pastores e outras lideranças tanto de igrejas evangélicas tradicionais quanto de pentecostais, bem como lideranças de missões estrangeiras, foram envolvidas pela pregação da cura divina, surgindo cisões e fundações de inumeráveis igrejas pentecostais. Quem vem à procura de cura e da bênção não vem com a intenção de filiar-se à Igreja. Por isso a relação com a Igreja caracteriza-se como descompromissada. Estudiosos classificam esta e muitas outras igrejas como “ agências de cura” , em
contraposição às igrejas pentecostais tradicionais abordadas anteriormente. A cura é o objetivo final e não apenas um elemento no percurso da fé, como é o caso nas igrejas pentecostais tradicionais. Com o termo “ agência de cura divina” alguns estudiosos também querem ressaltar que essas igrejas pentecostais são organizadas como se fossem um empreendimento empresarial do fundador, que vem a ser o “ dono” da Igreja, o que pelo menos no início fica bem evidente no caso do fundador da Igreja “ O Brasil para Cristo” . Para distinguir este fenômeno das igrejas pentecostais tradicionais, estudiosos falam de “ neopentecostalismo” ou “ pentecostalismo autônomo” , pois se formam congregações independentes e autônomas numa articulação maior. Um exemplo marcante dessa explosão pentecostal com promessas de cura nos anos 50 é a Igreja “ O Brasil para Cristo” , totalmente centralizada ao redor do seu fundador.
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Notas
1 Folha de S. Paulo, 10 maio 1993, p. 14.
2 Walter HOLLENWEGER, EI Pentecostalismo, pp. 9s.
3 Francisco C. ROLIM, Pentecostais no Brasil, pp. 70ss.
4 Antônio G. MENDONÇA, Introdução ao Protestantismo no Brasil, p. 48.
19
Estudos Teológicos, 35(l):7-20, 1995
5 ID., ibid., p. 52.
6 Francisco C. ROLIM, op. cit., pp. 52s.
7 Guerra Santa; Edir Macedo Investe na Luta contra o Diabo Lula, Isto E, 29 jun. 1994, p. 26.
8 Ibid., p. 27.
9 Ibid., p. 26.
10 Ibid., p. 27.
11 Oneide BOBSIN, Pentecostalismo: a Ordem do Caos, p. 8.
12 In: Carmelo ALVAREZ, ed., Pentecostalismo y Liberación, San José, DEI, 1992, p. 254.
Ingo Wulfhorst
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