quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Estudando as Seitas Neopentencostais - “O Brasil para Cristo”


O pedreiro pernambucano Manoel de Mello teve inicialmente experiências pentecostais na Assembléia de Deus, onde inclusive tomou-se pastor. Destacou-se por sua pregação direta, sem rodeios e de uma emoção contagiante para as massas populares. Desligado da Assembléia de Deus, tomou-se pastor da Quadrangular e, como evangelista, foi com a sua tenda de pregação e de cura de lugar para lugar. Sentindo a crescente atração do público, saiu da Quadrangular para iniciar o movimento “ Brasil para Cristo” , a exemplo do movimento pentecostal chileno “ Chile para Cristo”. Mello auto-intitulava-se “ missionário” e em 1950 fundou a Igreja Evangélica Pentecostal “ O Brasil para Cristo” , sendo seu chefe. E claro que nesta nova Igreja vamos encontrar muitos elementos da Assembléia de Deus e da Quadrangular, como, p. ex., a bênção e a unção de óleo para enfermos, a oração coletiva espontânea e os depoimentos pessoais. Não constatei nesta Igreja uma preocupação acentuada pela glossolalia (um fenômeno por vezes referido como "expressões de êxtase", é proferir sons ininteligíveis que se parecem com linguagem enquanto em um estado de êxtase. Glossolalia é muitas vezes confundido com xenoglossia, o qual é o bíblico "dom de línguas". No entanto, enquanto glossolalia é falar em um idioma inexistente, xenoglossia é a capacidade de falar fluentemente em uma língua nunca anteriormente aprendida)..



Mello construiu no Bairro da Lapa, em São Paulo, o templo-sede, o maior templo da América Latina, com um largo anfiteatro para 15.000 pessoas, salas para cursos, estudos e assistência social e médica. E sem dúvida a primeira Igreja Pentecostal que nasceu sem influência direta de missionários estrangeiros. Mas ela ainda se diferencia no mínimo em mais dois aspectos:

1. O missionário Mello solicitou a filiação de sua Igreja à Confederação Evangélica do Brasil e ao Conselho Mundial de Igrejas;

2. Ele se empenhou pessoalmente na política partidária, valorizando o engajamento político, elegendo alguns pastores seus para o legislativo estadual e federal pelo MDB, que naquela época representava a oposição ao regime militar.



Manoel de Mello participou de uma celebração ecumênica-política na Catedral da Sé que lembrou a morte de Vladimir Herzog nas mãos da ditadura militar. Mas em 1982 fez campanha aberta para o PDS e procurou eleger o seu filho vereador de São Paulo pelo mesmo partido. Toda a sua campanha política através da rádio e em cultos não obteve o resultado desejado, pois os membros da sua Igreja votaram em outros candidatos.

No ano passado visitei o templo-sede e constatei que há somente dois cultos semanais, num gritante contraste com os vários cultos diários da época áurea desta Igreja. Além disso, várias salas estão sendo alugadas para cursos supletivos e de preparação para o vestibular. É uma Igreja popular, que atrai a população pobre e periférica das cidades e conta hoje com 800.000 fiéis, conforme a AEVB. O sucessor de Manoel de Mello é o seu filho Lutero, enquanto o seu cunhado iria fundar a Igreja Pentecostal “ Deus é Amor” .



Bibliografia
BOBSIN, Oneide. Produção Religiosa e Significação Social do Pentecostalismo a partir de Sua
Prática e Representação. Tese de Mestrado apresentada na PUC de São Paulo, 1984.
— . Trabalhadores Protestantes Urbanos; Religião e Ética do Trabalho. Tese de Doutorado apresentada
na PUC de São Paulo, 1993.
— . Pentecostalismo: a Ordem do Caos. Fascículo nö 6 do Grupo de Trabalho sobre N ovos Movimentos
Religiosos, São Leopoldo, 1994.
BOUDEWIJNSE, Barbara et al. A lg o más que Opio; uma Lectura Antropologica dei Pentecostalismo
Latinoamericano y Caribeno. San José, DEI, 1991.
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO (CEDI). Alternativas dos Desesperados;
com o Se Pode Ler o Pentecostalismo Autônomo. Rio de Janeiro, CEDI, 1991.
GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era; uma Análise e Refutação da Chamada Teologia da
Prosperidade. São Paulo, Abba Press, 1993.
HOLLENWEGER, Walter. El Pentecostalismo; Historia e Doctrina. Buenos Aires, La Aurora, 1976.
M ENDONÇA, António Gouvêa & VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no
Brasil. São Paulo, Loyola, 1990.
PAULY, Evaldo Luis. E os Crentes? São Leopoldo, Sinodal, 1985.
ROLIM, Francisco Cartaxo. Pentecostais no Brasil; uma Interpretação Sócio-Religiosa. Petrópolis,
Vozes, 1985.
SOUZA, Beatriz Muniz. Experiência de Salvação. São Paulo, Duas Cidades, 1969.
Notas
1 Folha de S. Paulo, 10 maio 1993, p. 14.
2 Walter HOLLENWEGER, EI Pentecostalismo, pp. 9s.
3 Francisco C. ROLIM, Pentecostais no Brasil, pp. 70ss.
4 Antônio G. MENDONÇA, Introdução ao Protestantismo no Brasil, p. 48.
19
Estudos Teológicos, 35(l):7-20, 1995
5 ID., ibid., p. 52.
6 Francisco C. ROLIM, op. cit., pp. 52s.
7 Guerra Santa; Edir Macedo Investe na Luta contra o Diabo Lula, Isto E, 29 jun. 1994, p. 26.
8 Ibid., p. 27.
9 Ibid., p. 26.
10 Ibid., p. 27.
11 Oneide BOBSIN, Pentecostalismo: a Ordem do Caos, p. 8.
12 In: Carmelo ALVAREZ, ed., Pentecostalismo y Liberación, San José, DEI, 1992, p. 254.
Ingo Wulfhorst
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93001-970 São Leopoldo — RS



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