Estudando as Seitas Neopentencostais - A Congregação Cristã no Brasil
O operário italiano Luigi Francescon teve uma experiência semelhante aos suecos Daniel e Gunnar. O valdense Luigi migrou para Chicago e lá se tomou membro da Igreja Presbiteriana Italiana. Mas assistiu a reuniões na igreja de Durham e lá recebeu o dom de falar em línguas em 25 de agosto de 1907, como afirma. Motivado por uma visão semelhante à de Daniel e Gunnar, Luigi foi a Buenos Aires, Santo Antônio da Platina (PR) e finalmente ao Brás, bairro de migrantes italianos na cidade de São Paulo, numa época profundamente marcada por movimentos operários e greves em busca de melhores condições de trabalho. Luigi pregou em 1909 numa igreja presbiteriana, e a sua pregação carismática, a exemplo de Daniel e Gunnar, causou profundas divergências, que desembocaram na formação da Congregação Cristã em 1910.
Luigi não era missionário nem era sustentado por uma missão estrangeira. Por isso Antônio Gouvêa Mendonça ressalta que essa Igreja pode ser considerada a primeira Igreja Pentecostal brasileira. Além disso, a Congregação só manteve os cultos em língua italiana durante duas décadas, passando então definitivamente para a língua nacional. E devo ressaltar ainda que na década de 1950 entraram muitos nordestinos na Igreja, pois estes iriam ocupar o lugar dos italianos e de seus descendentes no Brás, acontecendo uma verdadeira explosão numérica de membros da Congregação. Esta foi-se difundindo para os estados brasileiros, especialmente São Paulo e Paraná, e para outros países. A Congregação nega-se a registrar o número de seus membros por causa da proibição veterotestamentária de contar o povo de Deus. Calcula-se que ela tenha mais de um milhão de membros.
Luigi era proveniente da Igreja Presbiteriana, e por isso é fácil entender que a Congregação Cristã crê na doutrina da predestinação. Essa doutrina serve para a Igreja explicar por que alguns membros batizados na Congregação saem da mesma, pois afirma que só os “ eleitos” , os “ verdadeiramente chamados” permanecem na Igreja. Por causa da doutrina da predestinação, a Congregação Cristã não faz evangelizações nem apelos à conversão. Pelo mesmo motivo, no Batismo não são formuladas perguntas ao batizando.
Mesmo tendo uma boa percentagem de membros de classe média, a maioria dos membros da Congregação Cristã são de classe trabalhadora e pobre, com a expectativa de ascensão social como prêmio da obediência, que é um elemento importante da tradição calvinista. Devem-se ressaltar a solidariedade comunitária e duas diferenças fundamentais para com outras igrejas pentecostais:
1) os membros não estão submetidos a nenhuma disciplina (com exceção da exclusão da Igreja por causa de adultério) e 2) um culto muito ordenado.
A Congregação Cristã tem uma administração central, e a uniformidade doutrinária é mantida pela assembléia anual dos obreiros na grande sede no Bairro do Brás. A Congregação publica apenas o relatório anual e nada mais. Não publica nem recomenda literatura religiosa.
Bibliografia
BOBSIN, Oneide. Produção Religiosa e Significação Social do Pentecostalismo a partir de Sua
Prática e Representação. Tese de Mestrado apresentada na PUC de São Paulo, 1984.
— . Trabalhadores Protestantes Urbanos; Religião e Ética do Trabalho. Tese de Doutorado apresentada
na PUC de São Paulo, 1993.
— . Pentecostalismo: a Ordem do Caos. Fascículo nö 6 do Grupo de Trabalho sobre N ovos Movimentos
Religiosos, São Leopoldo, 1994.
BOUDEWIJNSE, Barbara et al. A lg o más que Opio; uma Lectura Antropologica dei Pentecostalismo
Latinoamericano y Caribeno. San José, DEI, 1991.
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO (CEDI). Alternativas dos Desesperados;
com o Se Pode Ler o Pentecostalismo Autônomo. Rio de Janeiro, CEDI, 1991.
GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era; uma Análise e Refutação da Chamada Teologia da
Prosperidade. São Paulo, Abba Press, 1993.
HOLLENWEGER, Walter. El Pentecostalismo; Historia e Doctrina. Buenos Aires, La Aurora, 1976.
M ENDONÇA, António Gouvêa & VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no
Brasil. São Paulo, Loyola, 1990.
PAULY, Evaldo Luis. E os Crentes? São Leopoldo, Sinodal, 1985.
ROLIM, Francisco Cartaxo. Pentecostais no Brasil; uma Interpretação Sócio-Religiosa. Petrópolis,
Vozes, 1985.
SOUZA, Beatriz Muniz. Experiência de Salvação. São Paulo, Duas Cidades, 1969.
Notas
1 Folha de S. Paulo, 10 maio 1993, p. 14.
2 Walter HOLLENWEGER, EI Pentecostalismo, pp. 9s.
3 Francisco C. ROLIM, Pentecostais no Brasil, pp. 70ss.
4 Antônio G. MENDONÇA, Introdução ao Protestantismo no Brasil, p. 48.
19
Estudos Teológicos, 35(l):7-20, 1995
5 ID., ibid., p. 52.
6 Francisco C. ROLIM, op. cit., pp. 52s.
7 Guerra Santa; Edir Macedo Investe na Luta contra o Diabo Lula, Isto E, 29 jun. 1994, p. 26.
8 Ibid., p. 27.
9 Ibid., p. 26.
10 Ibid., p. 27.
11 Oneide BOBSIN, Pentecostalismo: a Ordem do Caos, p. 8.
12 In: Carmelo ALVAREZ, ed., Pentecostalismo y Liberación, San José, DEI, 1992, p. 254.
Ingo Wulfhorst
Caixa Postal 14
93001-970 São Leopoldo — RS
Bibliografia
BOBSIN, Oneide. Produção Religiosa e Significação Social do Pentecostalismo a partir de Sua
Prática e Representação. Tese de Mestrado apresentada na PUC de São Paulo, 1984.
— . Trabalhadores Protestantes Urbanos; Religião e Ética do Trabalho. Tese de Doutorado apresentada
na PUC de São Paulo, 1993.
— . Pentecostalismo: a Ordem do Caos. Fascículo nö 6 do Grupo de Trabalho sobre N ovos Movimentos
Religiosos, São Leopoldo, 1994.
BOUDEWIJNSE, Barbara et al. A lg o más que Opio; uma Lectura Antropologica dei Pentecostalismo
Latinoamericano y Caribeno. San José, DEI, 1991.
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com o Se Pode Ler o Pentecostalismo Autônomo. Rio de Janeiro, CEDI, 1991.
GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era; uma Análise e Refutação da Chamada Teologia da
Prosperidade. São Paulo, Abba Press, 1993.
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M ENDONÇA, António Gouvêa & VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no
Brasil. São Paulo, Loyola, 1990.
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ROLIM, Francisco Cartaxo. Pentecostais no Brasil; uma Interpretação Sócio-Religiosa. Petrópolis,
Vozes, 1985.
SOUZA, Beatriz Muniz. Experiência de Salvação. São Paulo, Duas Cidades, 1969.
Notas
1 Folha de S. Paulo, 10 maio 1993, p. 14.
2 Walter HOLLENWEGER, EI Pentecostalismo, pp. 9s.
3 Francisco C. ROLIM, Pentecostais no Brasil, pp. 70ss.
4 Antônio G. MENDONÇA, Introdução ao Protestantismo no Brasil, p. 48.
19
Estudos Teológicos, 35(l):7-20, 1995
5 ID., ibid., p. 52.
6 Francisco C. ROLIM, op. cit., pp. 52s.
7 Guerra Santa; Edir Macedo Investe na Luta contra o Diabo Lula, Isto E, 29 jun. 1994, p. 26.
8 Ibid., p. 27.
9 Ibid., p. 26.
10 Ibid., p. 27.
11 Oneide BOBSIN, Pentecostalismo: a Ordem do Caos, p. 8.
12 In: Carmelo ALVAREZ, ed., Pentecostalismo y Liberación, San José, DEI, 1992, p. 254.
Ingo Wulfhorst
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93001-970 São Leopoldo — RS
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