quinta-feira, 27 de julho de 2017

Estudando as Seitas Neopentencostais - Assembléia de Deus



Devido a uma profunda recessão econômica existente na Suécia, os operários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren migraram em 1902 para os Estados Unidos à procura de trabalho e de melhores condições de vida. O batista Daniel converteuse ao pentecostalismo e participou da Igreja de Durham em Chicago. Mas as Assembléias de Deus aos poucos foram alcançando camadas sociais mais elevadas. Entretanto, a composição de seu quadro de membros continuava se caracterizando pelas camadas mais populares das cidades e da área rural. Gunnar estudou por quatro anos num seminário batista sueco em Chicago e em 1909 recebeu o Batismo pelo Espírito Santo.

Um irmão na fé contou a Daniel e Gunnar uma visão celestial na qual aparecia a palavra “ Para” . Crendo que essa visão seria o chamado para a missão, foram consultar o mapa-mundi e encontraram no mapa do Brasil o estado do Pará. Consideraram este fato como confirmação divina. Procuraram recursos financeiros para a viagem e seguiram para Belém do Pará. Chegaram lá em 1910 e procuraram a Igreja Batista. Não demorou muito e já dirigiam reuniões de oração e de estudo, nas quais ressaltavam o Batismo no Espírito Santo, o falar em línguas e a cura. O pastor batista reagiu de forma contrária a essas idéias e o conflito resultou numa cisão, pois 18 batistas se uniram aos dois missionários suecos e fundaram a primeira Igreja local da Assembléia de Deus em 1911, em Belém.
A Assembléia de Deus foi-se propagando pelo nordeste, mas muito devagar para o sul, chegando apenas- em 1927 em São Paulo. Durante o processo de industrialização e urbanização a Assembléia de Deus cresceu muito entre operários de baixa renda, e também na “ explosão” pentecostal a partir da década de 50. Por volta de 1930 cerca de 15.000 pessoas faziam parte da Assembléia de Deus, e hoje ela teria 13 milhões de fiéis, conforme a Associação Evangélica Brasileira (AEVB).

O Pentecostalismo no Brasil



Não há dúvida de que a Assembléia de Deus cresceu na medida do crescimento da pobreza na periferia das cidades e do campo. As classes populares são atraídas pelo apoio e solidariedade, pela liberdade de expressão e manifestação religiosa nos cultos e outras reuniões e pelo acesso direto às lideranças.   Mas a ascensão social e o acesso à instrução de alguns membros começaram a trazer conflitos entre os conservadores e aqueles que desejavam mudanças nos costumes tradicionais pentecostais de não assistir a TV, rádio e cinema, p. ex., e de proibir vestimenta feminina com características masculinas ou indecorosa. O acesso à instrução levou à fundação de institutos bíblicos e de uma editora, que publica o semanário Mensagem da Paz, revistas, textos teológicos e livros, começando a sistematizar a sua teologia, que está centrada na conversão pessoal.
As Assembléias de Deus estão organizadas em Convenção Nacional, que propositalmente sofre uma série de limitações em favor de uma grande liberdade das congregações locais. A divisão em ministérios regionais semi-autônomos lembra o sistema presbiteriano. O que mais me impressiona é que em São Leopoldo, p. ex., há somente um pastor que coordena o trabalho dos demais obreiros em 25 igrejas na cidade. Com isso eles continuam fazendo parte do povo, não havendo uma separação de classe entre povo e obreiros. Naturalmente há tendências bastante fortes de formação de uma hierarquia, na qual o pastor ocupa o posto mais elevado.

Bibliografia
BOBSIN, Oneide. Produção Religiosa e Significação Social do Pentecostalismo a partir de Sua
Prática e Representação. Tese de Mestrado apresentada na PUC de São Paulo, 1984.
— . Trabalhadores Protestantes Urbanos; Religião e Ética do Trabalho. Tese de Doutorado apresentada
na PUC de São Paulo, 1993.
— . Pentecostalismo: a Ordem do Caos. Fascículo nö 6 do Grupo de Trabalho sobre N ovos Movimentos
Religiosos, São Leopoldo, 1994.
BOUDEWIJNSE, Barbara et al. A lg o más que Opio; uma Lectura Antropologica dei Pentecostalismo
Latinoamericano y Caribeno. San José, DEI, 1991.
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO (CEDI). Alternativas dos Desesperados;
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GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era; uma Análise e Refutação da Chamada Teologia da
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HOLLENWEGER, Walter. El Pentecostalismo; Historia e Doctrina. Buenos Aires, La Aurora, 1976.
M ENDONÇA, António Gouvêa & VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no
Brasil. São Paulo, Loyola, 1990.
PAULY, Evaldo Luis. E os Crentes? São Leopoldo, Sinodal, 1985.
ROLIM, Francisco Cartaxo. Pentecostais no Brasil; uma Interpretação Sócio-Religiosa. Petrópolis,
Vozes, 1985.
SOUZA, Beatriz Muniz. Experiência de Salvação. São Paulo, Duas Cidades, 1969.
Notas
1 Folha de S. Paulo, 10 maio 1993, p. 14.
2 Walter HOLLENWEGER, EI Pentecostalismo, pp. 9s.
3 Francisco C. ROLIM, Pentecostais no Brasil, pp. 70ss.
4 Antônio G. MENDONÇA, Introdução ao Protestantismo no Brasil, p. 48.
19
Estudos Teológicos, 35(l):7-20, 1995
5 ID., ibid., p. 52.
6 Francisco C. ROLIM, op. cit., pp. 52s.
7 Guerra Santa; Edir Macedo Investe na Luta contra o Diabo Lula, Isto E, 29 jun. 1994, p. 26.
8 Ibid., p. 27.
9 Ibid., p. 26.
10 Ibid., p. 27.
11 Oneide BOBSIN, Pentecostalismo: a Ordem do Caos, p. 8.
12 In: Carmelo ALVAREZ, ed., Pentecostalismo y Liberación, San José, DEI, 1992, p. 254.
Ingo Wulfhorst
Caixa Postal 14
93001-970 São Leopoldo — RS

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