UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DOS XANGÔS DO RECIFE
Xangô, nome de uma das divindades mais expressivas no panteão e na cultura vinda com os yorubás, foi aplicado para denominar manifestações religiosas dos grupos negros em geral, em alguns estados do Nordeste, sobretudo Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.
Na década de 1930, os olhares de diversos pesquisadores se voltaram para o Recife na realização do I Congresso Afro-brasileiro, liderado por Gilberto Freyre. As contribuições indígenas, europeias e africanas que no chamado mito das três raças formavam a nação brasileira, tinham um apelo forte no pós-escravidão e abriram novos horizontes para os estudos sociais. Com isso, pesquisadores começaram através de intervenções do Sistema de Higiene Mental, vinculado à Secretaria de Segurança Pública, buscar e compilar informações sobre as manifestações da cultura afrodescendente na região, em um movimento que, de certa forma, serviu como proteção no período mais duro de repressão do Estado aos terreiros em Pernambuco. O SHM, através desta institucionalização dos terreiros como objeto de estudo, conseguiu preservar o funcionamento de algumas casas.
Xangô, nome de uma das divindades mais expressivas no panteão e na cultura vinda com os yorubás, foi aplicado para denominar manifestações religiosas dos grupos negros em geral, em alguns estados do Nordeste, sobretudo Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.
Na década de 1930, os olhares de diversos pesquisadores se voltaram para o Recife na realização do I Congresso Afro-brasileiro, liderado por Gilberto Freyre. As contribuições indígenas, europeias e africanas que no chamado mito das três raças formavam a nação brasileira, tinham um apelo forte no pós-escravidão e abriram novos horizontes para os estudos sociais. Com isso, pesquisadores começaram através de intervenções do Sistema de Higiene Mental, vinculado à Secretaria de Segurança Pública, buscar e compilar informações sobre as manifestações da cultura afrodescendente na região, em um movimento que, de certa forma, serviu como proteção no período mais duro de repressão do Estado aos terreiros em Pernambuco. O SHM, através desta institucionalização dos terreiros como objeto de estudo, conseguiu preservar o funcionamento de algumas casas.
FOTO: Material apreendido em Xangôs pela polícia no Recife (PE) - mar/1938. Fotógrafo: Luis Saia. (Na imagem, se vê atabaques ilús tradicionais e usados no culto nagô).
Relatos apontam diversos terreiros contemporâneos, que teriam surgidos no final do século XIX no Recife. Eles teriam sido relevantes para a ocupação das periferias recifenses em bairros como Água Fria, onde ainda permanece em funcionamento o Sítio de Pai Adão (o nome mais conhecido e respeitado dos xangôs em Pernambuco), considerada a mais antiga em funcionamento. Fundado em 1875 por Tia Inês, vinda da região de Egbá, o Sítio tem como nome tradicional de Ilê Axé Oba Omi, e passou a ser conhecida após processo de tombamento como Terreiro Obá Ogunté. Os descendentes desta casa hoje se apresentam como "nagô egbá". Outra casa citada na época era o da Baiana do Pina, Fortunata Maria da Conceição, que se dizia nascida na Costa da África.
Ao mesmo tempo que a visibilidade trazia vantagens como a aceitação e a ascenção para alguns sacerdotes, os mais tradicionalistas e respeitados como Pai Adão e outros posteriores passaram a combater a folclorização do culto. Em 1967, o Diário de Pernambuco publica uma matéria com o seguinte trecho:
“(...) Baiana do Pina (Fortunata Maria da Conceição) era africana da Costa do Marfim, portanto, nagô legítima. Pai Adão, embora nascido no Recife, era filho de escravo africano, de Lagos, na Nigéria. Também descendentes de negros do Norte da África foram Rosendo, Oscar, Joana, Norberto, Maria das Dores, Anselmo e vários outros, todos eles fiéis à tradição jeje-nagô.
Correm os anos e, contudo, os modernismos da época ameaça desfigurar consideravelmente o xangô tradicional do Recife.
Os terreiros se mudam em casas de espetáculos. Deixando os segredos dos pejis e o recato dos seus ganzuás, lá se vão para os auditórios públicos os babalorixás e ialorixás dançar ao canto de preces que nada têm de tradicional. São cerimônias encomendadas e feitas apenas para divertir. Assemelham-se aos fandangos, bois-de-reis e mamulengos, cuja única finalidade é produzir dinheiro. (...)”
Esta resistência à exposição como folclore das suas expressões fez o xangô recifense se tornar menos visível na mídia que os cultos afro-brasileiros em Salvador e no Rio, que se expandiam de forma vertiginosa através das artes especialmente a partir deste período dos anos 60, com explosões da indústria cultural brasileira. É também neste período que sacerdotes do Xangô passam a migrar para o Sudeste e a trazer para o Recife o Candomblé.
A chegada de novos rituais e as inovações estéticas representaram, por um período, ameaça à sobrevivência das tradições locais. Hoje, movimentos de resgate das identidades e a valorização das raízes têm fortalecido a ancestralidade e as tradições culturais afro pernambucanas.
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