OMULU/OBALUAIÊ
Duas faces de um mesmo Orixá
Na Umbanda, Omulu é o médico dos pobres, o mais velho de
todos os Orixás. O rei e senhor da terra. É o que cuida do corpo e da alma. Suas cores são: o preto, representando o início de tudo, a
noite ou a morte; o amarelo, representando o nascer da vida, o sol, a
ressurreição e a eternidade. Ou ainda o preto e o branco, cores predominantes
da linha das almas.
Seu habitat é o cemitério (calunga pequena), onde tudo se
transforma. E o mar (calunga grande), o princípio da vida.
É um Orixá originário do Daomé (atual território Mahi).
Obaluaiê é um flexão dos termos Obá (rei) – Oluwó (senhor) – ayê (terra), “rei,
senhor da terra. Omulu também é uma flexão dos termos: Omo(filho) – Oluwó
(senhor), que quer dizer “filho e senhor”.
Obaluaiê o mais moço, é o guerreiro, caçador, lutador. Omulu, o mais velho, é o sábio, o feiticeiro,
guardião. Ambos têm a mesma regência e influência, significam a mesma coisa,
têm a mesma ligação e são considerados a mesma força da natureza.
“Quando nasceu o primeiro Orixá gerado na Terra por Nanã e
Oxalá, ele recebeu o nome de Obaluaiê (Dono da terra), porém Ele cresceu
distante dos outros Orixás sendo criado por sua avó Odudua (não tinha forma
material, só energética – o que tomou para si a importante missão de criar a
Terra), sem saber que existia outros seres da sua espécie. Quando Obaluaiê
descobriu a existência dos outros, percebeu que seu nome não correspondia e
resolveu mudá-lo para Omuluaiê (Filho da Terra), ou simplesmente Omulu.
Apesar de ser o mesmo Orixá, estas duas faces são marcadas
por um grande contraste, onde Obaluaiê marca uma fase totalmente prepotente e
Omulu, completamente humilde. Esta diferença também acompanha os filhos deste Orixá: se
for da qualidade mais nova, Obaluaiê, a pessoa é mais ativa, enérgica, vaidosa
com forte apego material; se for da qualidade mais velha, Omulu, a pessoa é
mais passiva, calma, sem muita vaidade nem apego material.”
Obaluaiê é o sol, a quentura e o calor do astro rei. É o rei
da terra, do interior da terra, e é o Orixá que cobre o rosto com Filá ou Azê (capuz de palha da costa), porque para
os humanos, é proibido ver o seu rosto, devido o respeito que devemos ter por
esse Orixá. Está no funcionamento do organismo, na dor que sentimos pelo mau
funcionamento dos órgãos, por um corte, queimadura ou traumatismo. Trata do
interior, mas cuida também da pele e suas moléstias. Rege aqueles que tem
problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes. Está presente nos
hospitais, casas de saúde, ambulatórios, clínicas, sempre próximo dos leitos.
Rege os mutilados, aleijados, enfermos. É Ele quem proporciona a cura e a
saúde. É o Orixá da misericórdia.
Por estar ligado ao funcionamento dos nossos órgãos internos
e externos, é a Ele que recorremos para curar a má digestão, a congestão
estomacal, o ácido úrico e seus efeitos. A relação de Omulu com a morte se dá pelo fato de Ele ser a
terra, que proporciona os mecanismos indispensáveis para a manutenção da vida.
O homem nasce, cresce, desenvolve-se, torna-se forte diante do mundo, mas
continua frágil diante de Omulu, que pode devorá-lo a qualquer momento, pois
Omulu é a terra, que vai consumir o corpo do homem por ocasião de sua morte.
Por isso é que se diz que Omulu mata e come gente.
(Do Livro CANDOMBLÉ – A
PANELA DO SEGREDO. Autor: Pai Cido de Òsun Eyin).
Omulu é Orixá responsável em controlar as doenças
epidêmicas, ou seja, doenças que castigam toda a comunidade. O Xaxará (bastão
ornamentado com palitos de dendezeiro, palha da costa, que representam a
multiplicidade e pequenas cabaças, onde Omulu guarda as curas de todas as
doenças), é seu maior distintivo: o que tem o poder de causar e curar as
doenças coletivas.
Acostumadas a lembrar de Omulu como o Orixá das doenças, das
dores e dos defeitos que elas causam; as pessoas se esquecem de que
Omulu/Obaluaiê é o Orixá da riqueza, do dinheiro que se ganha através do trabalho prazeroso e bem
remunerado, da fartura e da beleza interna.
A sua matéria de origem é a terra e, como tal, ele é o
resultado de um processo anterior. Relaciona-se também com os espíritos
contidos na terra. O seu poder está extraordinariamente ligado à morte.
Omulu é o Orixá que rege a morte, ou o instante da passagem
do plano material para o plano espiritual (desencarne). O Orixá Omulú guarda
para Olorum todos os espíritos que fraquejam durante sua jornada carnal e
entregaram-se à vivenciação de seus vícios emocionais. Mas Ela não pune ou
castiga ninguém, pois estas ações são atributos da Lei Divina, que também não
pune ou castiga. Ela apenas conduz cada um ao seu devido lugar após o
desencarne. E se alguém semeou ventos, que colha sua tempestade pessoal, mas
amparado pela própria Lei, que o recolhe a um dos sete domínios negativos,
todos regidos pelos orixás cósmicos, que são magneticamente negativos. E Tatá
Omulu é um desses guardiões divinos que consagrou a si e à sua existência,
enquanto divindade, ao amparo dos espíritos caídos perante as leis que dão
sustentação a todas as manifestações da vida. Esta qualidade divina desse amado
orixá foi interpretada de forma incorreta ou incompleta, e o que definiram no
decorrer dos séculos foi que Tatá Omulu é um dos orixás mais
"perigosos" de se lidar, ou um dos mais intolerantes, e isto quando
não o descrevem como implacável nas suas punições.
Ele, na linha da Geração, que é a sétima linha de Umbanda,
forma um par energético, magnético e vibratório com nossa amada mãe Yemanjá,
onde ela gera a vida e ele paralisa os seres que atentam contra os princípios
que dão sustentação às manifestações da vida.
Na verdade, ele é o excelso curador divino pois acolhe em
seus domínios todos os espíritos que se feriram quando, por egoísmo, pensaram
que estavam atingindo seus semelhantes. E, por amor, ele nos dá seu amparo
divino até que, sob sua irradiação, nós mesmos tenhamos nos curado para
retomarmos ao caminho reto trilhado por todos os espíritos amantes da vida e multiplicadores
de suas benesses. Todos somos dotados dessa faculdade, já que todos somos
multiplicadores da vida, seja em nós mesmos, através de nossa sexualidade seja
nas idéias, através de nosso raciocínio, assim como geramos muitas coisas que
tornam a vida uma verdadeira dádiva divina. Omulu, em seu pólo positivo, é o
curador divino e tanto cura alma ferida quanto nosso corpo doente. Se orarmos a
ele quando estivermos enfermos ele atuará em nosso corpo energético, nosso
magnetismo, campo vibratório e sobre nosso corpo carnal, e tanto poderá
curar-nos quanto nos conduzir a um médico que detectará de imediato a doença e
receitará a medicação correta. O orixá Omulu atua em todos os seres humanos,
independente de qual seja a sua religião. Mas esta atuação geral e planetária
processa-se através de uma faixa vibratória especifica e exclusiva, pois é
através dela que fluem as irradiações divinas de um dos mistérios de Deus, que
nominamos de "Mistério da Morte". Enquanto força cósmica e mistério
divino, Omulu é a energia que se condensa em torno do fio de prata que une o
espírito e seu corpo físico, e o dissolve no momento do desencarne ou passagem
de um plano para o outro.
ORAÇÃO A OBALUAIÊ
Senhor das minhas chagas e de minhas curas, Senhor que
abraça a vida e a terra, orai por mim e por minha alma. Abençoe a mim e à minha
vida, Senhor dos mortos e da vida, Senhor dos sonhos e destinos, demande o
tempo sobre meus amigos, revele a cura de nossas feridas, Senhor dos Senhores
Ancestrais.
Senhor dos Senhores das lágrimas, acalmai os que choram, os
que sofrem, os que adoecem, os que imploram. Senhor da minha vida e de minha
esperança, Senhor que sai da terra e tudo alcança, tenha piedade de mim, tenha
piedade de nós. Senhor do espelho que não vê,
Senhor do oculto e do saber.
Senhor dos animais e do amanhecer, nos conceda a cura para viver.
OMULU/OBALUAIÊ - LENDAS
DO FILHO ABANDONADO E DOENTE, AO MAIS BELO DE TODOS OS
ORIXÁS
Nanã pediu a Oxalá que lhe desse um filho, o que Ela não
sabia é que em outra ocasião, bebera com
Oxalá o suco de caracol (ìgbìn),
que é o próprio sêmen do Orixá. Logo, passou a ter o mesmo sangue de
Oxalá, o que fez com que Omulu nascesse todo deformado.
Desgostosa com o
aspecto do filho, Nanã o abandonou na beira da praia, para que o mar o levasse.
Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças, tirando pedaços
de sua carne. Quando Omulu estava todo ferido e quase morrendo, Iemanjá saiu do
mar e o encontrou. Penalizada, acomodou-o numa gruta e passou a cuidar dele,
fazendo curativos com folhas de bananeira e alimentando-o com pipoca sem sal
nem gordura até que o bebê se recuperou. Então Iemanjá criou-o como se fosse
seu filho. Mas Omulu ficou com o corpo cheio de cicatrizes, as quais eram tão
feias que o deixavam com vergonha. Compadecido, Ogum lhe deu uma roupa de palha
da costa, que cobria todo seu corpo, ficando de fora apenas seus braços e
pernas, que não foram tão atingidos pelas cicatrizes. E assim cresceu Omulu, coberto de palhas,
taciturno, compenetrado e, por vezes mal-humorado.
Quando rapaz resolveu correr mundo para ganhar a vida.
Partiu vestido com simplicidade e começou a procurar trabalho, mas nada
conseguiu. Por todos os lugares que passava, as pessoas se assustavam com sua
figura coberta de palhas e nada lhe davam.
Logo, começou a passar fome, nem sequer uma esmola lhe
davam. Omulu decidiu então embrenhar-se na mata, onde se alimentava de ervas e
caça, tendo por companhia um cão e as serpentes da terra. Ficou muito doente.
Por fim, quando achava que ia morrer, Olorum curou as
feridas que cobriam seu corpo. Agradecido, Ele se dedicou à tarefa de viajar
pelas aldeias para curar os enfermos e vencer as epidemias que castigaram todos
que lhe negaram auxílio e abrigo.
Chegando de viagem, Omulu viu que estava acontecendo uma
grande festa com a presença de todos os Orixás. Devido à sua timidez e
vergonha, decidiu ficar do lado de fora espreitando pelas frestas do terreiro.
Ogum, percebendo sua angústia, convidou-o para entrar e aproveitar a alegria
dos festejos. Apesar de envergonhado, Omulu entrou, mas ninguém se aproximava
dele. Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste
situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que Ele estivesse bem no
meio do barracão. A festa estava muito animada. Os Orixás dançavam alegremente
com suas ekedes. Iansã chegou então bem perto dele e transformou-se num redemoinho
de fogo, consumindo as roupas de palha de Omulu e expondo suas pestilências.
Neste momento de encanto e ventania em fogo, as feridas de Omulu pularam para o
alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo
barracão. Omulu, o Orixá das doenças, transformara-se num jovem, num jovem belo
e encantador. Omulu e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinam juntos sobre o
mundo dos mortos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas
dos mortos sobre os humanos.

Aspectos Gerais:
Dia: segunda-feira
Data: 16 de agosto (São Roque) e 17 de dezembro (São Lázaro)
Metal: chumbo
Flores: monsenhor amarelo ou branco, bananeira silvestre e
perpétua
Elemento: terra (início de tudo)
Frutas: laranja lima,
banana da terra , orobô e fatias de coco seco
Ervas: Canela de velho, barba de velho, babosa, beldroega,
costela de Adão, carrapeteira, erva
tostão, balaim de velho, cordão de frade, coentro e manjericão- roxo.
Saudação: Atotô
Oferendas: pipocas estouradas na areia da praia ou azeite de
oliva, folhas de mostarda (efó), feijão preto com camarão- seco e dendê, bife
de carne de porco.
Animal: cachorro
Quizilas: claridade, banana prata e perereca
CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE OMULU/OBALUAIÊ
Os filhos deste Orixá são geralmente pessoas pouco falantes.
Cautelosos em suas decisões. Apreciam o isolamento. São também pessoas
auto-punitivas, causando muitas vezes, em si mesmos muitos sofrimentos.
São geralmente muito devotos e cumpridores de suas
obrigações. Não medem esforços para ajudar, contando que sejam respeitados e
que suas determinações irão ser cumpridas.
Escondem, muitas vezes, seus sofrimentos sob uma ‘capa’ de
austeridade e desta forma podem causar uma impressão de pessoas frias e más.
Por vezes são ranzinzas, isto se dá, quando as coisas não acontecem do jeito
que queriam.
No seu negativo, são pessoas extremamente vingativas. Não
medem esforços para alcançar seus objetivos de vingança. São muito chegados a
fofoca e disse-me-disse e não dispensam uma crítica, mesmo que não tenha o
menor fundamento. Também são muito volúveis e silenciosas como a terra do seu
pai. Por isso que se diz, os filhos desse orixá não chegam, eles surgem.
Devem evitar o uso de óleo de soja, vísceras, carne de porco
e caranguejo.